Corajoso de barata pequena

Parece algo de outro mundo, mas juro que é verdade: toda vez que meu marido viaja, eu e Nico precisamos encarar algum inseto bizarro e enorme no meu quarto logo após o banho. Uma vez foi um zangão, e na última foi uma barata. A gente brinca, dá risada, mas também morre de medo, sai correndo e vai dormir no quarto do Nico com a porta fechada, apavorados. 

Quem começou com a história do “corajoso de barata pequena” foi o Nico, após uma dessas noites fugindo de barata grande, rindo e gritando. Eu estava pensando no que fazer para dar fim na barata, quando ele me disse: “Mamãe, você é muito corajosa, você consegue, eu confio em você”. Infelizmente, ele confiar em mim não foi o suficiente para eu virar uma pessoa corajosa. Foi quando ele disse: “Eu sou corajoso, mas só de barata pequena”. Rolei de rir. Ele também. A barata então… saiu de fininho e sumiu. Ufa! Todo mundo ficou feliz.

O tempo foi passando e ele continuou repetindo que ele era corajoso, mas só de barata pequena. Era o modo dele dizer que mesmo tendo medo de barata grande, ele era corajoso na maior parte do tempo, com insetos menores. Esse pensamento veio bem a calhar, já que estou num momento assustador da minha vida, lidando sozinha com meu pai com alzheimer, Nico mudando de escola, aprendendo a dirigir finalmente (mesmo com carteira), começando uma nova faculdade e vendendo a casa que eu amo tanto (apesar das baratas, grandes e pequenas) só para pagar uma montanha de empréstimos. Ah, também estou procurando uma casa nova num bairro mais afastado, sendo que nem me mudar eu queria.

Eu olho para os desafios na minha frente e sei que preciso ir resolvendo as coisas pequenas uma após a outra, para diminuir o tamanho da montanha de problemas. Quando faço isso, fica tudo menos assustador. No fim acho que eu também sou corajosa de barata pequena: eu encaro um problema de cada vez, e vamos em frente. Infelizmente, sair correndo e me esconder ou esperar a encrenca sumir sozinha, como a barata, não são opções.