Querido bebê na escola,
27/set/2021 | |
pensei em começar esse texto perguntando como tem sido seus dias, mas me lembrei que nos únicos dois dias que estive com você na sala de aula, só vi você feliz e brincando. Tanto que foi isso que durou a sua adaptação na escola: dois dias. Você sempre foi um bebê bonzinho e já esperava que não fosse ser diferente agora.
Quem está na adaptação sou eu, que não sei o que fazer com tanto tempo livre sem você. Hoje, por exemplo, eu lavei louça e fiz a lição de casa de alemão pela primeira vez em meses. Também andei de bicicleta pelo bairro e lembrei que preciso comprar logo a sua cadeirinha para andarmos juntos. Também fiz as unhas com a calma que elas merecem.
E agora olha só, sentei para ouvir música (que eu andava reclamando que não conseguia mais ouvir direito faz muito tempo) e escrever esse texto. Caramba, fazia uns dez meses que eu não conseguia fazer nada disso, pelo menos não com calma e muito menos atenção total. Acontece que eu estava sentindo falta de mim mesma. De lembrar que eu tenho interesses, gostos e hobbies. Um verdadeiro reencontro comigo mesma.
Não sei se deu pra perceber, mas estou pensando em você o tempo todo. Inclusive a gente decidiu te mandar para a escola justamente pensando no melhor para você. Ficar com uma mãe cansada e um pai tentando trabalhar sem conseguir não estava dando mais, nem pra nós e nem pra você.
Achamos uma escola onde você brinca em diversos jardins (cada dia em um), não tem televisão nem bolacha, não tem brinquedos comuns e nem berço. Você dorme na rede sendo balançado ouvindo alguém cantar para você e brinca com galhos, folhas, pinhas e bonecos de lã. Come arroz, feijão, polenta, brócolis e ovo, igual em casa. Nos momentos que está na sala de aula, a janela, que é enorme, está sempre aberta com vista para o jardim cheio de crianças, que aparecem na janela pra brincar com você. Tem aula de música na segunda-feira. E o que rege todo ensino da sua escola é o folclore brasileiro. Colocar você na melhor escola que encontrei foi o jeito que eu achei de ter 4 horas por dia para me reencontrar. Tem dado certo.