Livro Morrer sozinho em Berlim
07/set/2020 | | #resenha
Quando vi esse livro na Livraria Cultura do Conjunto Nacional nem imaginei que era tão importante. Por sorte, ele havia sido recém lançado no Brasil e estava em destaque na livraria! A história dele é incrível: para manter vivas as histórias de pessoas que resistiram ao nazismo, escritores receberam os processos movidos pelo governo contra essas pessoas e assim foram escritos livros baseados em histórias reais.
Esse livro foi publicado em 1947. Infelizmente o autor Hans Fallada escreveu em apenas um mês internado no hospital e morreu poucos dias antes do lançamento. Apesar de ainda ser novidade no Brasil, esse é um dos livros mais importantes sobre histórias de resistência. Só foi traduzido para o inglês em 2009, quando ganhou fama mundial, e português em 2018. Ou seja, por muitos anos foi um tesouro secreto apenas para falantes de alemão!
Para este texto não vou contar nada que atrapalhe para quem ainda não leu; vou só dar a dica mas sem estragar a surpresa da leitura.
Sou completamente apaixonada por Berlim, acho que é minha cidade favorita no mundo desde que pisei lá pela primeira vez em 2010. A cidade, como qualquer capital, é repleta de arte e mil coisas pra fazer. Mas tem o diferencial de ser Alemanha, apesar de eu brincar que Berlim na verdade não é Alemanha, porque não tem muito a ver com o que EU conheço do resto do país. Berlim tem espaço para todo mundo. E andar por Berlim é ver uma capital das mais modernas no mundo recheada de lembranças do passado a todo tempo. E na verdade isso é muito legal; mesmo que você não visite nenhum museu ou instalação e esteja apenas andando na rua!
Essa edição é de 2018 e é a primeira vez que esse livro é lançado integralmente da forma como foi digitado pelo autor; traduzido direto dos manuscritos que estão no museu. O capítulo 17 por exemplo é totalmente inédito. Outra coisa legal dessa edição é que no final tem fotos reais da história e algumas histórias extras sobre o autor e o livro.
Gosto da forma como o livro retrata o dia a dia das pessoas na época, a ascensão do conservadorismo, a mudança de costumes e de pensamento. O livro também aborda uma decepção com o governo e necessidade de resistir, por menor que seja a ação possível. Nessa hora você começa se questionar sobre a importância de pequenos atos individuais perante o autoritarismo. Esse tipo de gente é de uma coragem incrível! Igual o grupo de estudantes de resistência Rosa Branca, que já citei brevemente no fim do texto sobre minha república estudante na Alemanha. No caso de Morrer sozinho em Berlim, a história é sobre um casal de operários: ou seja, gente comum.
Como diz meu marido, tem uma diferença enorme entre contar a história de milhões de pessoas usando números grandes e de contar de forma íntima e próxima uma história individual. Acho que é isso que me pegou nesse livro. Com certeza um dos melhores livros que já li em toda minha vida, falo com tranquilidade e sem exagero. Obviamente, como estamos falando de um livro sobre resistência antinazista, não é uma leitura leve e tem trechos que na verdade são bastante pesados. Bem como já era de se esperar, na verdade. Esse livro é uma paulada, mas uma paulada maravilhosa. Prova disso é que são longas 640 páginas e devorei em menos de 7 dias!
Ficha técnica
Morrer sozinho em Berlim
Autor: Hans Fallada
640 páginas
Editora: Estação Liberdade; 1ª Edição (5 novembro 2018)