Livro Parto ativo, de Janet Balaskas
05/out/2020 | | #resenha
Ouvi falar desse livro lendo reportagens sobre parto normal bem no comecinho da minha gravidez. Achei que seria apenas uma espécie de guia (como consta na capa, louco de feia por sinal) mas me surpreendi logo no começo: o livro é muito mais que isso, tanto que estou lendo pela segunda vez!
Ele começa mostrando o cenário em que o conceito de Parto Ativo surgiu no Reino Unido, como se espalhou pelo mundo e se fortaleceu (infelizmente, no Brasil ainda não). A ideia de Parto Ativo surgiu quando a autora começou a pesquisar sobre o parto em diferentes culturas e percebeu que a mulher nunca estava deitada de barriga pra cima. Aliás, nenhum mamífero passa seu trabalho de parto nessa posição. Isso passou a acontecer mais recentemente, no mundo ocidental, quando os partos começaram a ocorrer em ambiente hospitalar e essa posição era mais prática para o médico!
A ideia todo do Parto Ativo é você dar protagonismo para a mulher e não para o médico: a mulher escolhe as melhores posições durante todo trabalho de parto do começo ao fim, invés de ficar deitada de barriga pra cima para conveniência de um médico que dá ordens e decide cada etapa do parto por ela (a não ser, claro, que ela queira ficar de barriga pra cima!). Hoje em dia maioria dos ambientes de parto no Reino Unido estão adaptados para essa liberdade de mobilidade da mulher, algo que não se vê muito por aqui ainda. Até porque lá a taxa de cesariana não é a maior do mundo, como aqui.
Aliás, as coisas no Brasil estão nitidamente caminhando pro caminho oposto: eu mesma só tenho uma única amiga que teve filho por parto normal. Vale ressaltar que isso é cultural e tão forte por aqui que eu mesma achei que ela era masoquista quando soube que escolheu parto normal; na época achava esse negócio de parto normal uma coisa muito primitiva e isso não faz nem um ano (!!!).
Sem falar que na minha cabeça parto humanizado era aquela coisa 100% hippie que envolvia obrigatoriamente parto na banheira, em casa e sem analgesia.. Bizarramente, maioria das pessoas ainda acredita nisso tudo no Brasil por pura falta de acesso a informação. Humanizado é respeitar as escolhas da mulher. Escolher uma cesariana e ter seu desejo respeitado também é parto humanizado. Assim como a escolha pelo uso de analgesia.
Citei acima o parto humanizado porque é um conceito que anda junto com o Parto Ativo, já que ambos tratam de respeitar os desejos e protagonismo da mulher. Porém como já expliquei antes, o Parto Ativo trata mais da liberdade de movimentos durante o trabalho de parto.
Foi quando engravidei que comecei a estudar sobre parto normal, influenciada pela minha obstetra. Já na primeira consulta ela disse que faz cesariana só por motivo médico (e não se engane: existem raríssimos REAIS motivos médicos) e me avisou que um parto leva em média 14h, para eu não entrar em pânico na hora achando que 5 horas é demais. Também me mandou ler sobre os benefícios e perigos da analgesia, para já saber tudo antes.
Nessa hora você percebe que informação é a melhor forma de se preparar para um parto normal. Se você não está bem informada você pode facilmente se desesperar sem saber o que está acontecendo, ser internada precocemente e acabar caindo em intervenções desnecessárias, não saber identificar o início do trabalho de parto e até cair numa cesariana desnecessária sem saber.
Claro que estar informada não me deixa imune de entrar em pânico, sofrer intervenções e passar por uma cesariana (cirurgia que salva vidas), mas ainda acredito que ter alguma noção sobre o momento do parto é melhor que nenhuma e diminui as chances de eu entrar em desespero (por exemplo frente a circular de cordão, algo tão comum). Também não estou imune do medo, afinal será tudo totalmente novo pra mim. Desejem sorte! Risos! smile
O livro explica a história do Parto ativo e também o funcionamento do corpo durante a gravidez e parto, dá dicas de como preparar seu corpo, explica o que são e qual importância de doulas, obstetras, enfermeiras obstetras etc, sugere posições para testar durante as fases de parto, dá dicas de amamentação, explica os melhores procedimentos a serem feitos (ou não) com o recém nascido… e ainda dá dicas para lidar emocionalmente com a dor. Também tem capítulos bem específicos apenas sobre respiração, massagem, yoga durante a gravidez, parto na água e muitos relatos de partos aqui no Brasil, curiosamente maioria em Curitiba. Bem completo e ótimo para ter ideias que podem ser úteis no seu trabalho de parto.
Resumindo: um livro maravilhoso para ler e reler antes de um (esperado) parto normal e de quebra uma leitura gostosa que explica detalhadamente o parto e a história do Parto Ativo. Outra coisa bacana é que ele é todo fundamentado em evidências científicas. No fim de cada capítulo tem a lista de referências que foram citadas; ou seja, não é um simples livro com ideias de alguém sobre parto. E no fim do livro ainda tem Sugestões de leitura!