15 anos depois
19/maio/2023 | |
Quando começamos a namorar, nem sonhávamos em ter filhos. A gente na verdade tinha medo de engravidar. As coisas só mudaram quando a latam perdeu minha bagagem em uma viagem para a Alemanha em 2018, quando fiquei uns meses sem tomar pílula e comecei a sentir desejos loucos, entre eles o de ter um bebê. Voltando ao Brasil eu estava decidida: queria mesmo um bebê, pela primeira vez.
Antes disso, gostávamos de ver filmes, ir ao cinema, cozinhar juntos. Eu trabalhava como designer e ele como professor de história da arte. Ele me viu acabar a faculdade e aprender a dirigir. Eu vi ele acabar o mestrado e o doutorado. Juntos compramos nosso primeiro apartamento em 2014. Ele era bem antigo, mas conseguimos reformar ele aos poucos até ficar do nosso gosto. Lembro que tinha grandes janelas e paredes coloridas. Pensamos bem, éramos jovens e um pouco bregas.
Ele me viu adoecer, quando em 2016 comecei a ter dores crônicas pelo corpo todo. Precisei parar de trabalhar fora, fazer mil exames e ir a 39 médicos atrás de uma resposta. Ele estava comigo em todos os exames e consultas. Ele também aprendeu a limpar a casa e cozinhar enquanto eu não segurava um talher na mão. O diagnóstico na época foi fibromialgia, mas hoje acho que eram os efeitos de uma tendinite em um corpo autista. Só sei que com ele e por ele eu melhorei.
Depois de uma batalha juntos contra a infertilidade, finalmente chegou a gravidez. Estávamos em uma pandemia e eu estava presa em casa com diabetes gestacional. Ele aprendeu sobre índice glicêmico, a fazer as receitas certinhas e me ajudou a perder o terror de agulhas. Deu certo, fomos juntos até o fim. O parto não foi nada como eu esperava, mas ele estava lá ao meu lado o tempo todo oferecendo água, melão, aconchego.
Após o parto, seguimos mais um ano em isolamento e eu desenvolvi uma depressão. Ele continuava ao meu lado, sendo meu suporte e me acompanhando em todas sessões na psicóloga e na psiquiatra. Sim, ele entrava comigo. Também cuidou sozinho do bebê todas as vezes (e foram muitas) em que eu não conseguia nem cuidar de mim mesma.
Agora somos 3 e continuamos sendo suporte um do outro. Olha onde chegamos e tudo que construímos juntos em 15 anos!