Arroz, feijão e culpa materna
27/jul/2023 | |
Recentemente precisamos passar um dia fora de casa por causa da dedetização e fomos passar o dia na minha avó. O que era pra ser uma tarde agradável me caiu como uma surra logo que chegamos para o almoço. Estava fazendo o pratinho do bebê quando ela virou e disse: só batata, macarrão e ovo? Se ele não come arroz com feijão é culpa sua que não ensinou.
Na hora fiquei sem reação e não disse nada. Não gosto dessa coisa de ficar me explicando. Mas isso já faz meses e estou com a resposta aqui, na ponta da língua, desde então. Se ele não come arroz com feijão a culpa nunca foi minha. Eu como todos os dias e sempre ofereci para ele, desde o primeiro dia da introdução alimentar, e sigo oferecendo mesmo ele rejeitando há mais de um ano.
Tem belas fotos e vídeos de sua introdução alimentar, que foi exemplar. Ele comia brócolis, espinafre, couve, chuchu, acelga, taioba, repolho, sopa de beterraba e tofu mexido. Famílias vegetarianas geralmente comem mais variedade de vegetais e aqui não foi diferente. Também sou especialista em montar pratos coloridos e balanceados. Era bonito mesmo de ver e até a Rita Lobo já elogiou no Twitter. Ele nunca comeu papinha, e sim a comida da família amassada no garfo, como é o recomendado atualmente.
As coisas começaram a mudar quando ele fez um ano e foi parando de comer. Percebendo que ele gostava de alimentos sólidos para segurar e morder, comecei a preparar todo tipo de bolinhos. De frango, de carne, de abobrinha com arroz, de brócolis com queijo, de lentilha, de feijão. Fiz também várias variações de batata, pão de queijo, macarrão, arroz com feijão, nuggets caseiros… no fim ele seguia comendo cada vez menos alimentos. Avaliado por uma Neuropediatra e uma psiquiatra infantil, hoje sabemos que ele tem seletividade alimentar grave e provavelmente é autista.
Mesmo sabendo de toda dor que esse histórico dele causou e causa em nós, as pessoas são rápidas em julgar que meu filho não come por culpa minha. Até por não ter dado papinha, o que não é recomendado, já fui julgada. Como é fácil julgar sem ser responsável pela alimentação de uma criança atípica. Como é difícil a vida das mães de bebês com seletividade alimentar grave.