Autista também cresce

Nico é uma verdadeira borboletinha social. Ele faz amizade em qualquer lugar que a gente vá. Só me resta ficar de papo com as outras mães e pais enquanto as crianças se divertem. Uma vez ele fez amizade no mercado com uma menina de 5 anos que gostava de brincar e se comunicar imitando um cachorro. Logo a mãe, desconfortável, me explicou que ela era autista nível dois e tinha hiperfoco em cães. 

O que ela não esperava era que eu contasse que também sou autista nível dois. Sou oralizada mas tenho uma grande dificuldade de comunicação, me expressando melhor pela escrita, confessei. Ela ficou em choque e me revelou que nunca tinha visto um autista adulto, ainda mais nível dois. Realmente, não me surpreende. A maioria de nós está fechada em casa.

Sua cara de susto e a lista de perguntas que veio depois me mostraram que ela nunca tinha parado pra pensar que autista cresce. Até porque autismo é uma condição de Neurodesenvolvimento que nasce com a pessoa, e até hoje os diagnósticos e tratamentos são mais focados em crianças. Raros são os terapeutas ocupacionais que atendem adultos, por exemplo. Psiquiatras especialistas em autistas adultos também são raridade. 

Comecei a falar sobre minha vida inteira. Infância, adolescência e vida adulta sem diagnóstico, faculdade, casamento, maternidade, trabalho. A dificuldade com mercado lotado e fila de banco. A incapacidade de dirigir e o frio no cinema. Enfim, essa sou eu, mas ela ficou fascinada ao saber tudo que eu tinha feito na vida, ainda mais sem um diagnóstico por 33 anos. 

Sabemos que nenhum autista é igual a outro, mas espero que essa conversa tenha ajudado ela a perceber que sua filha pode fazer muita coisa na vida. Também espero que ela compreenda as maravilhas do acompanhamento médico e terapias (quando indicadas): melhor forma de melhorar a qualidade de vida de uma pessoa autista, que podem ajudar muito em seu futuro, por exemplo com a rigidez mental.