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Cheiro de leite


17/ago/2022 | Anielle Casagrande |

Nos primeiros dias não percebi que aquele cheiro estranho em todas minhas roupas, lençóis, pijamas e cobertas era de leite. Com o passar do tempo foi virando um cheiro azedo, e eu sendo perseguida por ele em todos os lugares o tempo todo, pensava que devia ser cheiro de sangue, cicatriz, pomada, remédio ou simplesmente “cheiro de pós-parto”, até perceber que o cheiro vinha da parte de cima de todas as minhas roupas. Era leite, muito leite, que escorria 24h pra todo lado. Sabe como é puerpério, tudo escorre muito, é leite, é lágrima, é sangue. 

Os meses foram passando e o leite que deveria diminuir e estabilizar, não estabilizou. Foi sempre leite demais o tempo todo, vindo aos montes e em fortes jatos. Nos primeiros meses o bebê nem conseguia mamar tranquilo: se afogava e chorava a cada mamada. Mamava fazendo barulho, sofrendo, se afogando, chorando, se debatendo e por fim vomitava uma grande parte. Mesmo assim, engordou 1,4 kg no primeiro mês e 1,2 no segundo. Não foi fácil, mas assim é a nossa história com o leite e com a hiperlactação. Nessa época lembro de sentar para ler um livro enquanto ele dormia e ao levantar perceber a minha camiseta, calça, e a cadeira cheios de leite. O cheiro da roupa até sai, já da cadeira é outra história. Comecei a pegar pavor do cheiro de leite, que me lembrava do bebê se afogando.

Passados mais uns meses, as coisas se ajeitaram e ele aprendeu a mamar sem se afogar. Eu também aprendi a ordenhar sempre no banho, e com os peitos menos cheios, os jatos diminuíram. Finalmente a amamentação se estabeleceu e virou algo tranquilo para nós dois, após muito sofrimento e aprendizado. O cheiro do leite começou a me lembrar dos gostosos momentos em que a gente mamava de manhã na cama, abraçados. Sentia o cheiro do leite nas minhas roupas quando estava fora de casa e sentia saudades do bebê e das nossas mamadas no sofá no meio da tarde. A verdade é que eu passei a amar o cheiro do leite.


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