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Culpa materna brasileira


25/maio/2022 | Anielle Casagrande |

Nos grupos de mães e conversas com mães na Europa, não tem a rigidez que existe entre as mães e grupos de mães brasileiros. Aliás, eu fujo de grupos de mães brasileiros. Acho que geram muita culpa e julgamento. 

Nos grupos de mães britânicos, por exemplo, elas falam livremente sobre quantas horas seus bebês assistem TV por dia. Nunca vi ninguém julgando ninguém por isso, mesmo elas sabendo que muita exposição não é recomendada. Aliás, basta ler mais a fundo os comentários para perceber que elas colocam as crianças nas telas justamente pra ter um tempo para si e para cuidar da casa, ou seja, é algo importante para elas.

Todos os dias vejo nos grupos fotos de papinha de mercado, bolacha de mercado, mingau pronto, purê pronto, almôndega pronta, peixe empanado pronto etc. Sabemos que é o mais indicado, mas elas estão fazendo o melhor que podem, tenho certeza, em nome da sanidade mental e economia de tempo. E ninguém julga ninguém. Como dizem elas, take it with a pinch of salt: não seja tão rígida.

O assunto mais polêmico é a amamentação. Para não ficarem “presas” ao bebê 24h e serem as únicas responsáveis pela criança, as mães britânicas optam na maioria das vezes pelo uso de fórmula. A maioria usa a combinação de fórmula + peito. Assim, elas podem dividir a função de alimentar a criança com o pai e familiares e é uma carga a menos no seu dia e principalmente na sua madrugada. Acho impressionante como elas colocam seu bem-estar em primeiro lugar e reconhecem que não é justo cuidarem de tudo sozinhas. Elas sabem dos benefícios da amamentação, mas também não se culpam por isso. É algo cultural, eu percebo.

Não estou dizendo que devemos deixar crianças o dia todo vendo tv, comendo bolacha pronta e tomando mamadeira. Mas estou apontando que existem coisas que deixam o maternar mais leve que percebo que não são grandes tabus no exterior, mas no Brasil soam como grandes erros e geram grande culpa. Falta leveza e muito jogo de cintura por aqui, eu reconheço. Eu mesma estranhei quando vi elas falando abertamente sobre tudo isso no começo. Hoje deixo meu filho de 18 meses ver TV às vezes e comer biscoito de polvilho pronto, e não me culpo por isso.


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