Grupo de mães britânico
09/nov/2021 | |
Você ja se perguntou como é um grupo de mães de outro país? Entrei nesse grupo no Facebook ainda na gravidez e sempre me surpreendeu que era cheio de regras e baseado 100% em evidências científicas. Na verdade, após estar em tantos grupos brasileiros eu comecei a amar esse grupo britânico. Quem já esteve em grupos de mãe/ grávida brasileiros sabe do que estou falando, os assuntos mais comuns são lendas e achismos, que na minha opinião refletem a dificuldade de acesso à saúde em nosso país.
Assuntos proibidos
Os assuntos proibidos são norteados por leis e normas, seja britânicas, seja mundiais da OMS. Atualmente os assuntos proibidos são: ninho (é contraindicado pois causa morte por sufocamento), doppler portátil, protetor de berço (outro que causa morte por sufocamento), alimentar bebês antes de 6 meses, dúvidas sobre vacina de covid, uso de cobertas em bebê conforto (de novo sufocamento), querer parir antes de 37 semanas, comentários sobre quem prefere usar fórmula, oferecer água para bebê antes de 6 meses, dicas para mãe ou bebê com intestino preso, “sei que é errado mas fiz com meu bebê e ele não morreu”, emergências com mãe ou bebê (vá direto ao pronto socorro), fotos de fluidos corporais como sangue ou tampão mucoso (pode postar mas nos comentários, assim não aparece na timeline de ninguém).
Falar do doppler portátil é proibido por um motivo muito importante: em casa, é muito fácil você achar a pulsação de outra coisa que não seja o coração do bebê. E isso pode gerar problemas sérios caso o bebê esteja com poucos batimentos; e também caso ele esteja com batimentos e você esteja ouvindo algo com poucos batimentos. Ou seja, não deve ser usado em casa por pessoas que não sejam da área da saúde. Mas no Brasil ninguém liga muito pra isso.
O que mais amo nesse grupo é que não tem achismo, elas se baseiam sempre em normas oficiais. Por exemplo, quando alguém pergunta se pode comer carne mal passada ou sushi na gravidez, as outras respondem com links do site do NHS (SUS britânico) e percebi que todos confiam no NHS. Não tem respostas como nos grupos brasileiros, baseadas em “eu comi e to viva” ou “faça o que quiser” e percebo que isso é algo cultural mesmo, porque elas acreditam que o NHS sabe o que é melhor para todos. Por aqui o site do sus sequer apareceu no google para a maioria das perguntas que tive na gravidez: geralmente aparecem sites aleatórios e sem fonte confiável. Acreditar nesses sites ou em conteúdos sem fonte em redes sociais também é algo cultural brasileiro.
Diferenças culturais
A primeira coisa pra entender o grupo é saber os termos britânicos, como OH (other half, meu parceiro), MIL (mother in law, sogra), FTM (first time mom, mãe de primeira viagem), push present (presente por ter passado pelo parto normal), combi feed (amamentação combinada de fórmula e leite materno), HV (health visitor), LB (little boy), LG (little girl), little man (bebê). Termos que eu aprendi e não conhecia antes: hangry (nervosa e com fome) e nesting (montando ninho; preparando a casa pra chegada do bebê).
Acho importante também pontuar que lá a taxa de gravidezes sem querer é na faixa de 10% sendo que no Brasil passa de 55%, a maioria das mães não amamenta e prefere a liberdade da fórmula (assim qualquer pessoa pode alimentar o bebê e não apenas ela) e praticamente 100% dos partos é normal. As formas de analgesia também são diferentes daqui, por exemplo elas usam muito gas and air. E em geral o pré-natal é super diferente também, com poucas consultas, poucas ecografias, acompanhado apenas por parteira e não por médico etc. Também me choca que todas parecem ter mais de 4 filhos. Mas bem, se eu tivesse boa saúde e boa educação gratuita eu também teria uns 4, confesso.
Diferença cultural que eu mais amo: acho lindo demais os anúncios de gravidez que elas fazem. Geralmente são fotos muito bonitas. Eu AMO demais quando postam sobre isso. Já fotos de grávida e newborn, roupas cheias de frescura e laços e fitas (que acho louco de brega e desconfortável) pro bebê usar na maternidade e sacos de maternidade elas não usam. Os “sacos de maternidade” são trocados por sacos de comida com as roupas de bebê dentro e pronto. Também não existe aquele nome que vai na porta da maternidade. Fotógrafo de parto e doula também nunca vi falar no grupo.
Assuntos (não tão) polêmicos e o humor britânico!
No grupo elas falam abertamente sobre aborto, bebês chamados Lucifer (que pra elas é um nome de anjo normal), parto de pessoas trans, casais LGBT.. e acho complicado que elas tratam algumas coisas que são consideradas violencia obstetrica com humor. Também reclamam muito dos maridos, que não ajudam em nada em casa, sempre com humor. Aliás, o humor é o que me faz amar esse grupo.