Muita tela ou pouca rede de apoio?
25/abr/2023 | |
Existe a maternidade ideal e existe a maternidade possível. Existe o que manda a OMS e o pediatra bacana do Instagram e existe o que dá pra fazer em meio a diversas outras responsabilidades. O que não dá é pra sair julgando realidades diferentes das nossas. Ninguém é melhor que ninguém porque tem tempo, saco e saúde mental em dia.
O debate não deveria ser sobre telas. O debate devia ser sobre o motivo das crianças acabarem tantas horas por dia nelas. Porque enquanto o debate ficar em cima das mães, vai ter mais e mais mães brigando, sobrecarregadas e julgadas. O debate deveria ser sobre a falta de rede de apoio, falta de acesso às creches, falta de acesso a boas consultas pediátricas e boa informação, maternidade solo, sobrecarga materna, saúde mental materna e muito mais.
Em Curitiba, em 2022, 50% dos bebês de até 3 anos não tiveram vaga nas creches da rede pública. 25% das mães desenvolve depressão perinatal e 50% perde o emprego após ser mãe. A culpa é da mãe que tem que dar conta de tudo e dos outros filhos e não tem mais cabeça pra brincar de massinha no chão por horas e horas por dia?
Também em 2022 houve um gigante aumento no número de bebês registrados por mãe solo. Ou seja, grande parte das mães que andam sendo julgadas por aí se desdobram em mil enquanto cuidam de seus bebês sozinhas. Onde está o pai? Quantos sacrifícios essas mães têm que fazer para conseguir cuidar do filho e trabalhar fora? Quantas contam com alguma rede de apoio? Quantas tem uma rede de apoio disposta a ficar entretendo a criança por horas todo dia?
O debate sobre telas na verdade devia ser um debate sobre falta de rede de apoio e privilégios.