O cansaço é uma lente de aumento

Se você gostou desse título, você vai se surpreender ao saber que ele é um trecho do livro A filha perdida, de Elena Ferrante. O livro virou filme em 2021 e acabou alcançando muita gente através da Netflix, inclusive gente que não gostou nem um pouquinho da história. Vamos falar sobre ela? 

Sem saber que se tratava da A filha perdida, muita gente aplaudiu de pé e até compartilhou alguns trechos do livro que postei nos stories ano passado. “Um filho é, de fato, um turbilhão de aflições” é uma das primeiras frases do livro que resolvi compartilhar enquanto lia. 

Mas o mais interessante mesmo nesse livro são os trechos sobre a exaustão, o cansaço, a falta de apoio, o machismo, a perda de identidade das mulheres quando viram mães. Quando ela relata, por exemplo, que estava meses sem abrir um livro e a exaustão deixava ela raivosa e esgotada, além do sofrimento da privação de sono e também dificuldade financeira. Confesso que muito me vi nela. A diferença é que eu não tinha uma grande carreira para deixar de lado quando virei mãe, então nunca senti ódio. 

Em outro momento, ela conta sobre como é fácil ser uma visita que brinca por uma ou duas horas com as crianças mas vai embora de volta para sua vida sem filhos, sem sobrecarga, sem privação de sono. Assim é fácil estar sempre disposta a brincar e com bom humor, né? O perrengue mesmo só a mãe dessas crianças conhece. 

Tem uma certa angústia quando ela relata que precisou fugir e passar três anos longe das filhas para não morrer: “eu estava muito cansada” diz. Esse é um livro sobre burnout materno. Ou fugia daquela situação ou sentia que iria morrer de cansaço. Ainda falando de fuga, ela conta a história de um homem que deixou três filhos pequenos com a mulher para fugir com outra mais muito mais nova. Isso acontece todo dia, e ninguém se comove, de tão comum. Mas e se uma mulher resolver fugir e ficar longe dos filhos, bem como os homens fazem todos os dias, para se reencontrar?