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O desespero em uma cesariana


28/jul/2023 | Anielle Casagrande |

Eu não sou boa em disfarçar emoções. Logo que as cenas do parto da Xuxa começaram eu já estava encolhida no sofá, segurando as cobertas com ódio perto dos olhos e tremendo inteira. Se durasse mais um pouco acho que teria tido um ataque de pânico, juro pra vocês. Ver aquela mulher ali, totalmente desesperada, me deixou aterrorizada junto com ela. 

Não falo sobre meu parto e não gosto de lembrar dele. Mas ver assim de fora uma mulher passando por desespero durante uma cesariana me deixou dilacerada. A sensação de estar com sua barriga aberta (e muito bem acordada!), desconfortável em uma maca, cheia de canos, aparelhos e panos, é horripilante e eu conheço bem. Não poder ver o que estão fazendo com o bebê e pra onde ele foi, também. Não poder sentar, andar, se soltar, segurar o bebê direito, olha… realmente não gosto de lembrar.

Pra piorar ela ainda sofreu diversas violências obstétricas, como falta de contato pele a pele, corte rápido do cordão, bebê segurado pelos pés… eu sei que faz uns 25 anos, mas mesmo assim. São cenas que pra mim, que tenho pavor de lembrar da minha cesariana e de tudo que envolve hospitais, acabaram comigo. Senti ali toda sua fragilidade e lembrei que são 7 as camadas cortadas na barriga durante uma cesariana, com você bem acordada e sentindo tudo. É uma cirurgia de médio porte. E na verdade seja qual for a via de parto, a chance de sofrer uma violência obstétrica no Brasil é enorme e até algo comum. Muitas mulheres sequer percebem que foi violência, de tão corriqueiro.

Curiosamente, as pessoas no Twitter hoje estão questionando por que as mulheres estão optando pelo parto domiciliar planejado, tendo seus bebês no conforto de casa e bem longe de hospitais. Sinceramente, eu entendo perfeitamente.  


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