O problema do “instinto materno”
19/maio/2023 | |
Vamos começar pelo óbvio: quando você fala que existe instinto materno, você está dando abertura para algumas mães questionarem se elas nasceram sem ele e se tem algo errado com elas. Quando vi meu bebê pela primeira vez, senti vontade de segurar no colo, oferecer seu primeiro leitinho, protegê-lo de tudo e de todos. Mas nos dias a seguir tive muitos momentos de fraqueza e me questionei muitas vezes que tipo de mãe eu era.
Eu não senti um amor louco instantâneo por ele, mesmo tendo sido tomada por todo tipo de belas emoções, já que esperei tanto por esse encontro e ele era tão fofinho. Eu acabei me colocando tão em segundo plano para me dedicar a ele que adoeci: desenvolvi uma depressão ainda na gravidez, nutrida de luto, solidão, isolamento da pandemia, diabetes gestacional e muito mais. Quando ele nasceu eu ainda estava juntando meus cacos e seu choro me dava agonia, por não entender o que ele queria comunicar.
O tempo foi passando e fomos nos acertando. Logo percebi que aquele ser minúsculo chorava a maioria das vezes porque queria ficar perto de mim como o bom filhote de mamífero que era. Mas até entender isso, questionei muitas vezes minha capacidade como mãe e onde estaria meu instinto materno. Ele chorava de um lado e eu do outro. No fim eu era uma mãe deprimida e tem mais: autista grau dois sem diagnóstico. Infelizmente demorei mais de um ano para descobrir que afinal eu não era uma mãe ruim.
Como dizer para uma mãe em um momento tão frágil como o puerpério que ela não tem algo que deveria ser parte do seu instinto, que todas têm naturalmente e ela não? Não faz mais sentido aceitarmos que o maternar é um laço criado dia após dia, fralda após fralda, colo após colo?