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Os ais do neném


20/set/2022 | Anielle Casagrande |

Quando meu filho estava aprendendo a falar, juro pra vocês: aiai foi sua quarta palavra. Como criamos ele solto e ele vive ralado, roxo e esfolado, sempre achei que ele dizia aiai só quando estava com dor. Até alguém me dizer que não: o aiai dos bebês representa na verdade todas as suas “dores”, inclusive as que não são físicas, como tristeza e frustração. Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha mas não acreditei totalmente. As dores dos outros não são tão importantes porque não é na gente, não é mesmo? 

Ontem estávamos numa cama elástica com o bebê, que estava se divertindo muito. Mas uma hora começou a ficar tarde e precisamos ir para casa. O bebê começou a protestar na mesma hora: aiai, aiai. Nitidamente não estava reclamando de dor, e sim apenas indignado mesmo. Percebi na hora que era o único jeito que ele sabia expressar sua indignação, com as poucas palavras que sabe dizer. Foi a primeira vez que tive realmente certeza que nem todo aiai do neném era de dor. 

Os adultos geralmente esquecem que bebês são pessoas também. E como pessoas, eles também têm seus gostos, preferências e vontades. O bebê tem todo direito de gritar a plenos pulmões que não gostou da ideia de sair da cama elástica para ir para casa (e o adulto também tem direito de não gostar da gritaria e de levar o bebê pra casa mesmo assim!). E se o único jeito que ele conhece é dizendo aiai, então que seja. Resta a nós, os adultos da situação, acolher o choro e lembrar que bebê também é gente, também sente e também tem direito de se expressar. 

O jeito foi pegar ele no colo, acolher o choro, explicar que era tarde e já estava na hora de jantar… e irmos para casa. Ele protestou mais um pouco mas logo entendeu que mesmo sendo livre para expressar seus ais, ainda somos nós os responsáveis por decidir quando é melhor irmos para casa.


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