Paternidade medíocre
11/ago/2023 | |
Sempre achei curioso como a régua para “bom pai” é tão abaixo da régua para “boa mãe”. A mãe precisa se sacrificar sem reclamar, chegar ao ponto da exaustão e do desespero, suplicar por ajuda (e muitas vezes não ter ajuda nenhuma) para ser considerada boa mãe. A mãe que trabalha fora é mãe pela metade, a mãe que não amamenta também, e a mãe que conta com ajuda da própria mãe ou de babá também. Nenhuma mãe é boa o suficiente.
Enquanto isso, eu vejo pais que somem e reaparecem só no fim de semana e são “ótimos” pais. Estão lá nas fotos em rede social todo fim de semana levando a cria no parque e na pracinha, olha que bacana. Tem também aqueles pais que “até ajudam em casa” mas tem nojo de fralda: coisa de mulher. Ou aqueles que trabalham muito então não podem “ajudar” muito. Ah, e todos precisam de uma boa noite de sono, é claro. A mulher que se vire de madrugada e de preferência sem fazer barulho.
O que sobra para as mães é todo cuidado com a casa, com as crias e com o casamento. Conheço homens que mesmo com filhos mantém o ritmo de vida de solteiros: festa todo dia, churrasco nos domingos, viagens com a galera, bebedeira na sexta-feira. Mas se você olha como está a mãe, nenhuma surpresa: sobrecarregada, cansada e arrancando cabelos enquanto faz janta e entrete criança sozinha pela milésima vez só hoje. Muitas vezes tudo isso além de trabalhar fora. E ai dela que ligue alguma tela.
Quando foi que aceitamos que a paternidade seja tão medíocre? Quando foi que aceitamos que homens achem que fraldas, dar banho e fazer dormir é coisa de mulher? Quando foi que virou normal filho ser responsabilidade de uma pessoa só, e o pai não ser capaz de descobrir sozinho que a criança precisa de sapato, ver o número na sola e ir logo comprar?
Quando vejo meu bebê brincando de boneca aproveito para ensinar a importância do cuidado. Trocar a fralda, fazer dormir, dar suco, passear de carrinho, dar banho. Tudo isso, meu filho, é coisa de mãe, mas também é coisa de pai, desde que ele não seja medíocre.