Preconceito com depressão pós-parto
03/nov/2021 | |
Meu sonho sempre foi doar leite. Acontece que tive problemas psicológicos ainda na gravidez (tudo pela primeira vez na vida) e precisei tomar remédio psiquiátrico desde o oitavo mês (também pela primeira vez). Ainda bem que existe remédio psiquiátrico amigo da amamentação. Se meu bebê podia beber esse leite, pensei que não teria problema em doar, mas não foi o que aconteceu.
A pediatra disse que o remédio era bandeira amarela no site da e-lactância (site onde conferimos se um remédio é amigo da amamentação) e recomendou que eu ligasse no banco de leite mais perto de casa para ver se aceitariam o leite. Achei que seria acolhida com carinho, visto que as doações de sangue caíram na pandemia e imagino que as de leite também.
A pessoa que me atendeu chegou a anotar meus dados, passou as instruções sobre a coleta e disse que iam na minha casa na quinta-feira. Estava tudo indo bem até eu falar do remédio psiquiátrico. Ela pediu um minuto para olhar um livro que tinha com a lista de remédios. Não achou o bendito remédio. Achei estranho não ter olhado direto no e-lactância, mas não conheço as regras do SUS.
Depois ela chamou várias pessoas e perguntou se conheciam aquele remédio. Me senti exposta, com tanta gente falando sobre meu remédio. Penso que ela podia ter encerrado por aí e dito que na dúvida era melhor não receber meu leite. Mas não: ela começou a perguntar para as pessoas ao redor se alguém sabia pra que doença era aquela medicação.
Depois ela me perguntou “pra que você toma esse remédio? Ninguém conhece”. E eu no auge da culpa respondi rapidamente “depressão pós-parto”. Foi a forma que achei em 5 segundos de resumir todo sofrimento que tinha passado nos últimos meses para uma total desconhecida. Situação totalmente descabida, visto que não preciso explicar para ninguém o motivo de tomar remédio e com certeza tanto faz para o banco de leite.
Esperava que fosse mais profissional, ou até atenciosa, com uma mulher passando por uma coisa horrível dessa, a depressão pós-parto. Mas ela só conseguiu dizer que “então não tem como”. Comecei a olhar para meu leite como se tivesse algo errado, que não fosse bom o suficiente. Uma baita de uma bobagem, mas que me deixou atordoada por semanas e semanas. Só tenho a agradecer que foi por telefone e não ao vivo. Que sirva de exemplo de como NÃO tratar uma mãe com depressão pós-parto em pleno puerpério. Na verdade, de como não tratar ninguém que tome remédio psiquiátrico.