Quando a depressão perinatal me engoliu
24/abr/2022 | |
Confirmei a gravidez dias antes de ser declarada a pandemia e eu e meu marido nos isolarmos no apartamento. Não fui a nenhuma loja de bebê ou farmácia ver produtos de higiene. Comprei tudo para o bebê online e sem contato com outras mães e ajuda de vendedores, inclusive o quarto e cada objeto dele. Não conheci nenhuma outra grávida. Ninguém na rua nunca perguntou se eu estava grávida. Nunca usei vaga ou fila preferencial. Praticamente ninguém me viu grávida.
Não conheço ninguém que fez um isolamento tão rígido quanto o meu. Como tive uma gravidez de alto risco (diabetes, pressão alta e anemia) eu não ia nem no corredor ou sacada do apartamento, porque na época, começo de 2020, ainda não se sabia como eram as formas de contágio da covid-19 e o Brasil era campeão em morte materna. Como tive diabetes, fiz uma dieta restritiva e perdi 7 kg.
No terceiro mês de isolamento perdi meu padrasto alemão, que era como um pai para mim. Minha mãe ficou sozinha na Alemanha então eu estava sempre disponível online inclusive de madrugada, por causa do fuso horário. Meu desejo era ir pra lá, mas eu não podia devido à gravidez de alto risco. Comecei a ter ódio de estar grávida, da gravidez de alto risco, de não poder comer nada fora da dieta de diabetes e de ter que ficar fechada em casa. E foi nesse cenário que meu bebê foi gestado e nasceu. Uma gravidez que planejei por 13 anos e que levou 14 meses de tratamento contra infertilidade para acontecer. Foi quando fui parar na psiquiatra pela primeira vez na vida e entrei no primeiro remédio psiquiátrico.
Quando ele nasceu, cuidamos dele só eu e meu marido por meses sem rede de apoio. Continuamos fechados no apartamento sem ver praticamente ninguém e sem conhecer outros pais e bebês por mais 7 meses. Foi assim que entrei no segundo remédio psiquiátrico. Pra piorar, uma das únicas duas amigas que me visitaram quando Nico era pequeno, morreu no final da sua gravidez e passei por outro luto.
Continuo em tratamento e tomo os 2 remédios psiquiátricos até hoje. Não sei se irei me recuperar dos danos causados pela pandemia, mas hoje estou vacinada e tentando ser a melhor mãe que consigo e acho que tem dado certo smile