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Solidão de um pós-parto pandêmico


18/mar/2021 | Anielle Casagrande | #

Estava num momento de tédio e escrevi para minha amiga do outro lado do Atlântico que não estava gostando muito da rotina como mãe. Na prática os dias são chatos, arrastados, cansativos e todos iguais, o que chamo carinhosamente de “fralda leite fralda leite fralda leite”, um resumo do loop que enche meu dia e não acaba nunca, por mais fofo, sorridente e bonzinho que seja o bebê (e o meu é tudo isso). Não reclamo das fraldas e do leite e muito menos do bebê, reclamo da solidão e do tédio impostos pela pandemia.

Primeiro, ela disse que já se sentiu como eu algumas vezes: teve também dias chatos, cansativos e todos iguais. E segundo, ela me lembrou que meu bebê foi totalmente gestado e nasceu na pandemia, algo fora do normal. Passei a gravidez todinha fechada em casa, comprei cada item do meu bebê online sem poder ver ao vivo e ter dicas de vendedor, não conheci nenhuma outra grávida… Ainda tenho o sonho de ir numa loja de bebê. Meu bebê já tem 4 meses e nunca vi outra mãe, sem ser pela janela do meu apartamento. Continuamos sem sair de casa desde 16 de março de 2020. Meus dias se resumem literalmente a bastante solidão e tédio.

Resumindo: a minha maternidade pandêmica só tem as partes chatas da maternidade e nada das partes que deixariam tudo mais leve. Aquele alívio de alguns minutos por estar com ele na rua, numa amiga ou até numa fila de mercado, que ajudam a tirar a cara da rotina de ficar fechada em casa com o bebê, eu não tenho. Fiquei só com as partes tediosas, dia após dia, desde que ele nasceu. “A maternidade também tem um lado colorido. Você só não teve a chance ainda de descobrir por causa das circunstâncias” escreveu minha amiga depois.

E só percebi na pele como continha verdade cada mensagem da minha amiga quando passei uma tarde fazendo o tedioso trabalho de montar estantes em casa. Meu marido cuidou do bebê enquanto eu girava as pernas das estantes pra lá e pra cá. Foram deliciosas horas distraída e sem pensar em mais nada. No final ele perguntou quão cansada eu estava e só consegui sorrir. Tinha finamente tido um dia diferente dos outros gastos única e exclusivamente nos cuidados do bebê e estava pra lá de feliz: até esqueci como é solitário o puerpério numa pandemia.

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