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Um segundo parto


05/fev/2023 | Anielle Casagrande |

Estava escrevendo um texto chamado “a vida é boa” sobre como estamos felizes com os arranjos que fizemos em nossa vida com o bebê. Ele está em casa faz 14 meses e passou todos esses meses sem nenhuma virose de escola, vive grudadinho em mim e gosta de dormir e acordar mamando. Até que veio o baque. A minha psiquiatra sugeriu que eu levasse meu bebê para avaliar porque ele tem mãe autista e autismo é genético, e desde então meu mundo caiu: Nicolas tem 2 anos e é autista. “A vida é boa” ficará sem final e nunca será publicado. 

Eu, que nem pensava em colocar meu filho na escola esse ano, agora terei que colocar ele na escola no período da tarde e nas terapias para autismo pela manhã. É quase um emprego em tempo integral. Ele tem 2 anos e passará 40h por semana ocupado fora de casa e sem mim. Me dói pensar que preciso ficar em cima da escola e das terapias, por ordem médica. Como ele tem autismo e ainda não fala, não tem como saber se vão tratá-lo bem, acolher suas crises, respeitar seus limites, oferecer as poucas comidas que ele tolera, saber fazê-lo dormir, protegê-lo de apanhar, não forçar que olhe nos olhos. E nem me contar como foi seu dia ele vai conseguir.

Já pus meu filho na escola quando ele tinha 9 meses e só tirei porque ele é um bebê chiador e a pediatra sugeriu segurar em casa até 3 anos. Ele se adaptou tão bem que foram só dois dias de adaptação, ambos sem minha presença. Eu chorei um monte andando no shopping perto da escola, mas ele não. Ele só se divertiu. Mas a novidade de precisar por ele na escola contra minha vontade, mais as 20h de terapias, mais saber que ele é deficiente e tem suas particularidades, está me matando. 

Não posso deixar de pensar que a ida do meu bebê para a escola é um segundo parto. Está sendo bem dolorido só de pensar. O jeito é lembrar que isso ia acontecer uma hora ou outra mesmo e só vai fazer bem. Que venha mais um corte no nosso cordão umbilical. 


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