Vá em paz, Carol
01/out/2021 | |
Hoje o dia amanheceu um pouquinho mais cinza. Vai ter gente lá no Japão se perguntando o que aconteceu no Brasil essa noite passada que deixou o mundo inteiro mais sombrio. Amanheceu frio, chuvoso, cinza e triste hoje em Curitiba e não muito diferente de como estou me sentindo. Acontece que perdi a minha amiga Carol, que teve uma complicação no finalzinho da gravidez e deixou um lindo bebê por aqui.
Falar de luto nunca é fácil, é sempre difícil e pesado e a gente nunca está pronto. Mas eu não estava pronta de forma alguma para falar de um luto desses. Devia ser proibido um negócio desse, um bebê ficar sem mãe. Observo pela janela os sabiás voando pra lá e pra cá com galhos no bico, estão com certeza formando um ninho perto daqui. Quão injusto seria montar esse ninho com todo amor do mundo e não poder estar aqui ao rachar dos ovos?
Escrevo essas linhas ouvindo a chuva lá fora; no final tudo parece se misturar e ser a mesma coisa, uma choradeira aqui e outra no telhado. É pesado demais isso que estou sentindo. Tive uma gravidez de risco (anemia, pressão alta, diabetes) no meio de uma pandemia mas em momento algum pensei que poderia ficar longe do meu bebê. Lugar de mãe é junto do bebê.
Por isso vou abraçar meu filho e encher ele de carinho, pensando em todos os bebês e em todas as mães que por algum motivo não podem estar juntinhos hoje. Penso também nesse bebê, que deixou de conhecer uma mãe incrível, mas que logo logo não vai faltar gente pra contar pra ele sobre como ela esperou por ele e era uma pessoa especial. Carol me transmitia uma calma e uma atenção tão grandes, que passava a certeza de poder ouvir sobre qualquer assunto e a qualquer hora. Era uma delícia ter uma amizade assim.
Vá em paz, Carol. Você lutou muito e agora merece descansar.
Eu olho essa foto sua com o meu bebê e imagino que estou finalmente vendo você com o seu.