“Você cria ele com carinho?”

A enfermeira entrou na minha casa e meu filho logo se escondeu. Achando que era vacina, fui encontrar o pequenino escondido e encolhido atrás do sofá. Ele tem só 20 meses, mas mesmo assim chamei-o de forma carinhosa e expliquei que a moça veio olhar o machucado no tetê da mamãe. Ele levantou a cabeça e deu mais uma espiada no ambiente. Ela tinha um jaleco branco que o deixou desconfiado. Cheguei perto, ele não quis muito papo e se escondeu de novo. Falei mais uma vez de forma atenciosa que a moça ia ajudar a mamãe com o tetê pra ele voltar logo a mamar e não era vacina. Ele preferiu ficar escondido mais uns dez minutos e eu deixei.

A enfermeira tinha acabado de entrar na minha casa. Ela deu uma risada meio sem graça e ficou assistindo tudo de pé ainda na porta. Quando desisti de arrancar ele de trás do sofá e voltei recebê-la, ela me perguntou se eu estava criando ele com carinho e amor. Perguntei o que ela queria dizer com isso. Ela respondeu que “agora está na moda criar os filhos com carinho”. Na hora senti meu corpo gelar e dei só um sorriso amarelo. Muitas coisas passaram pela minha cabeça mas não falei nada.

Depois que ela foi embora fiquei pensando nesse diálogo. Como assim, será que tem gente que cria os filhos sem amor e carinho? E pior, pelo jeito esse era o padrão antes do carinho “estar na moda”. Então tudo me leva a crer que criar crianças com respeito é novidade e algo especial. Algo que deveria ser o padrão hoje e sempre mas nitidamente não é.

Crianças são pessoas e acho que não precisa dizer que merecem respeito. Isso não deveria ser algo básico? Criança merece respeito assim como adultos, idosos, adolescentes, homens, mulheres… Não consigo entender como pode alguém desrespeitar uma pessoa por ter um cérebro imaturo e poucos anos ou meses de vida. Inclusive sou da teoria que se tem alguém que precisa de muito carinho, muito amor e muito respeito são justamente as crianças. Pensando bem, bom seria mesmo se o carinho estivesse na moda.